quarta-feira, 25 de março de 2009

Deliciosas coincidências

Não sei por que, mas o acaso me atrai. Tudo que é coincidência se torna mais atraente, mais vívido. O planejado é estático, determinado, invariável. Chato isso, muito chato.

As surpresas são inesperadamente maravilhosas. É lindo ser surpreendido! Seja com pequenos gestos, pequenas palavras ou uma mudança repentina que ocasiona um bom desfecho. Surpresa só não é boa quando não dá certo.

E o que o destino nos apronta? Ninguém sabe. Mas é bem mais gostoso não saber...

Deixa acontecer!


Lasanha no forno


Chegara atrasado do trabalho. Um milhão de formulários, milhares de assinaturas, telefones berrantes e um trânsito caótico. Mais um dia movimentado e seu maior desejo agora era a cama. Deitar-se, dormir e esquecer.

Passou a porta da entrada, tirou os sapatos e sentiu o alívio de movimentar os dedos dos pés. Livrou-se também do relógio, da gravata, da maleta e do cinto. Dobrou as mangas da camisa, não entendendo o porquê daquelas roupas quentes num país tropical como o Brasil. Pensou em como seria maravilhoso trabalhar de bermuda e chinelos de dedo.

Entrou no banheiro, despiu-se e sentiu a água gelada correr e esfriar seu corpo. O estômago roncou e ele lembrou-se de que não tivera tempo de almoçar no trabalho. Saiu do banho, colocou um pijama e foi procurar o que comer.

Lasanha congelada. Perfeito. Simples, gostosa e o melhor: bem rápida. Seria a sua refeição. Abriu uma garrafa de vinho, se achando merecedor dessa regalia.Era nessas horas que pensava que não dedicava tempo a si, a se satisfazer, só focava o trabalho. Colocou a lasanha no forno.

- Alô – atendeu o telefone no primeiro toque.
- Carlos? É o Carlos que tá falando?
- Não tem Carlos nenhum aqui não.
- Não mente pra mim não, Carlos. Eu sei que é você! Assume! Diz logo que é você, Carlos! – a voz da mulher ao telefone transparecia que, do outro lado da linha, ela estava tensa e até com um tom de choro na voz.
- Eu já te disse que não sou Carlos. – desligou.

- Alô. - O telefone tocou novamente.
- Desculpe. Não queria ter sido grossa. - a mulher parecia realmente constrangida. - É que o Carlos, o cretino do Carlos, me deu seu número de telefone dizendo que era dele.
- Tudo bem. – ele não se sentiu confortável parar dizer nada além disso.
- Obrigada. Meu nome é Mônica. E você? Como se chama? Eu já sei que não é Carlos. – Ela riu nervosa.
- Felipe.
- Você se importa de conversar comigo, Felipe?
Ela não pôde recusar, mesmo que, no seu íntimo, quisesse desligar o telefone e mandar a moça parar de querer contar seus problemas a estranhos. Mônica contou sua história, falou sobre Carlos, seu ex-marido, que queria a guarda do filho de 1 ano. Contou sobre a vida... Felipe ouviu, ficou mais à vontade e reconfortou-a como se já a conhecesse.

- Ah, Felipe! Bem que eu sabia que você era uma cara legal!

Um cheiro forte, estranho e cada vez mais acentuado vinha da cozinha.

- A lasanha! – Felipe deu um salto.
- O quê? Lasanha?
- Queimou! Ah, meu Deus! Queimou! Um minuto...

Correu na cozinha, desligou o forno. Não mexeria na vasilha tão cedo, queria deixar esfriar.

- Oi. Voltei.
- Foi culpa minha, né?
- Não, não foi. Eu que me distraí.
- Eu ainda acho que fui eu, e faço questão de me desculpar.
- Pessoalmente? – ele não entendeu que impulso o levou a dizer aquilo, mas apreciou a idéia.
- Sim. E eu levo uma pizza.

Ela riu. Ele deu o endereço. Parecia coisa de louco, mas ele confiava nela. Despediram-se e desligaram. Em uma hora ela chegaria,

É, valeu a pena queimar a lasanha... Aqueceu o coração.

Luisa Iva.
25/03/2009

Ponto final.

E bom apetite.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Eis que surjo novamente.

Quanto tempo! E nem me fale em tempo... Eu não tenho tempo mais nem pra mim, quanto mais pra ficar atualizando o blog. Mas, eu sinto falta, sinto mesmo.

Nesses meses eu só faço uma coisa (e com muita maestria, diga-se de passagem): RECLAMAR.
Eu reclamo com que está do meu lado, reclamo na internet (nas raras vezes em que eu tenho tempo pra ela), até ligar pras pessoas somente com o intuito de reclamar eu estou fazendo.

Eu reclamo 2 horas, estudo 10 minutos. Estudo duas horas, reclamo mais uns 20 minutos. Normalmente o tempo da reclamação é maior.

E, nesse clima de reclamação, revolta e afins: A poesia (que veio do fundo da gaveta):

Ode aos errantes

O erro faz crescer
Alimenta a alma em sua longa missão.
E em teus passos trôpegos,
Sem rumo e equilíbrio,
Constrói-se uma ponte sólida.

Erra!
Erra e orgulha-te!
Repensa, reage,
E segue...
Segue...
Segue errando na tua paz!

Em teus erros já me espelho,
Quero errar como tu erras
E desprezar meus pés cortados
De tanto pisar em pedras.

Errantes, olhai em volta!
Quantas pontes edificadas!
Quantas pedras removidas!
E em vossos pés calejados,
Eis o mapa de vossas vidas!

Luisa Iva Maia Forte
28/12/2007


Ponto Final.
Até a próxima.