domingo, 14 de dezembro de 2008

Quem é vivo...

Quem é vivo sempre aparece! Por isso, aqui estou.
Atrasei, mas compareci!
E me encontro na situação mais agradável do mundo: férias!
Ô, beleza!

Então, poesia hoje pra voltar às raízes.



Sapos estomacais

Que te custa ocultar essa tua alegria?
Que te custa mudar teus valores?
Cambiar da voz a melodia,
Tirar do peito os ardores...

Mudar de cara, de tribo
De som, de figura,
Tirar da alma a mistura
De cinismo tão contundido.

Rio-me agora,
Mas não há sinceridade
Nessa boca semi-aberta.
É que teu riso tão solto,
Tão mau,
Me morde o orgulho
De forma indiscreta.

Pode olhar atravessado
E de indiretas encher teu discurso.
Vou levando meu sorriso amarelo,
Meu único recurso.

E na digestão dos sapos,
A felicidade que estava em trapos,
Se reconstrói.
Porque não sou esponja,
Sou escudo
E o que me atinge não destrói.

Luisa Iva, em 04/11/2008


Ponto final.
E boas férias!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Abomináveis

Quando a criatividade cisma em não aparecer, a gente adere ao mais novo costume da escrita mundial: a releitura. É tão lindo! A base toda feita, a espinha dorsal pronta... É só repintar as paredes de uma cor nova.

Quem teve essa idéia não fui eu. Vou somente parafrasear - que é o nome bonito que a gente emprega quando usa a idéia de alguém.

Paulo Mendes Campos. Vale a pena ler a crônica original.



Coisas Abomináveis

"Sem dizer das outras 8.329 coisas abomináveis, das quais não tenho tempo de me lembrar neste instante, eu denuncio na vida moderna os seguintes crimes contra a criatura humana:"

Sala de espera sem cadeira pra você sentar; qualquer lugar lotado que não seja estádio de futebol; gente que cospe no chão sem a menor cerimônia; despertador que toca sem querer num dia de sábado; dia de voltar de viagem ( todo mundo se estressa); falso intelectual; falso burro; pessoas falsamente sorridentes (ou você sorri ou você não sorri); elevador enguiçado; elevador enguiçado e lotado; ser chamado de "ném" naquele timbre estridentemente horroroso; ser chamado de "ném" em qualquer timbre; gente berrando no Nextel; música alta em celular no meio da rua (os fones de ouvidos já foram inventados, sabia?); chiclete quando acaba o açúcar; Coca-Cola sem gás; perder dinheiro; mania de arrumação; "Adivinha quem é?" no telefone quando você realmente não sabe quem está falando; sair mais feio do que de costume em foto; chuva no dia que você fez escova; derrota do Botafogo; árbitro que rouba o Botafogo; comentarista de futebol falando mais idiotices do que eu; aquele impedimento que todo mundo viu, menos o bandeirinha; filme de terror; leite frio; leite quente; leite; jiló; frango ensopado; feijão; olhares de desprezo; nota ruim; críticas sem argumentos; criança malcriada; música sem letra; sol escaldante; frio cortante; querer comer aquela torta de chocolate e estar de dieta; estar de dieta em qualquer ocasião; pedir uma pizza de rúcula e o garçom perguntar se a pizza pode vir sem rúcula porque está em falta; tirar o siso; desconfiança; falta de eletricidade em pleno século XXI; gente sem assunto; aquelas carinhas do msn que não se entendem; segunda-feira às 7:00 da manhã; propaganda ruim; propaganda de Disk sei-lá-o-quê; gente que acredita que vai encontrar o amor da vida no Disk-sei-lá-o-que; Assistir o Programa da Márcia e ficar emocionado (sem comentários); fumaça de cigarro; gatos; saber o final do filme antes dele terminar ( pode ser livro também); gente que diz que não se arrepende de nada (então, como quer ser desculpado de algo se não se arrependeu?); gente que não te dá tempo pra pensar; falta de tempo; ouvir desculpa esfarrapada; ter que dar desculpa esfarrapada; guarda-chuva quebrado; capa de chuva amarela; buzina; motorista que não respeita semáforo; motociclistas que não respeitam o semáforo; pedestres que não respeitam o semáforo; arrogância; não entender a piada; não entenderem a sua piada; aparentar ter mais idade do que tem; aparentar ter menos idade do que tem (eu que o diga); sinceros irremediáveis (às vezes a verdade machuca); gente sem tato; casal de comercial de margarina; beijos e agarramentos públicos; restaurante lotado; sal demais; pimenta; imposições; Telemarketing; não ter o que fazer; ter duas coisas pra fazer na mesma hora; gente que monopoliza o controle remoto; gente que não perde um capítulo da novela nem por decreto; conversar com gente de óculos escuros; não conseguir terminar um livro; terminar um livro e se decepcionar; terminar um livro e ter vontade de jogá-lo pela janela; desperdício de água; fãs enlouquecidos e às lágrimas; foto 3x4; manual de instruções em inglês; manual de instruções em japonês; manual de instruções que não tem o que você precisa; engarrafamento; bêbado inconveniente; qualquer pessoa inconveniente; gente que fala te catucando; "Depois eu te conto" mas nunca conta; gente que cochicha na sua frente; conversa que é interrompida justamente quando você chega; surpresa desagradável; falta de senso de humor; ficar perdido; ficar perdido em dia de chuva; bula de remédio; procurar algo na geladeira e não achar nada que você queira; hambúrguer com ovo; pessoas que se tratam como "honey"; fruta de supermercado que não tem gosto de fruta; fast-food com gosto de papelão; sentir vontade de chorar e ter orgulho demais pra conseguir; dia de domingo (porque você sabe que o dia seguinte é segunda); perguntas sem resposta; respostas óbvias que você não consegue achar; quando você atende o telefone e a primeira frase que o sujeito do outro lado da linha diz é "Quem fala?" (se ele ligou, ele é que deve se identificar); falta de opinião; príncipes encantados (eles são chatos); “gerundismo”; "miguxos" que escrevem: amuL, amodulu, kéru e pke; chicrete e pobrema; poblema; pessoas que vêem defeito em tudo; nomes próprios que parecem ter vindo de outro planeta; nomes americanos abrasileirados; prova de física; alergia; ir pra fazenda e descobrir que esqueceu o repelente; gente intrometida; não ter o que escrever; salto alto em paralelepípedo; cupim.


Ponto final.
Até a próxima.
Beijo grande pra todo mundo.

Beijo especial pra uma pessoa insistentemente especial.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

E que minha loucura seja perdoada.

Não deveria se discutir loucura. É enxugar gelo, discutir sobre cor de escova de dente ou time de futebol. Cada um na sua, melhor assim. Mas nada impede de discorrer sobre um assunto tão interessante.

Sinceramente, o dicionário cristaliza a palavra. Loucura não é algo tão palpável como o Aurélio sinaliza. Loucura é fluido demais. Loucura é subjetividade, é de uma multiplicidade absurda de significados.

A loucura patológica pode sim ser ruim. Mas a loucura figurada pode ser deliciosa.

Há momentos em que ser chamado de louco é praticamente um elogio. Tem horas em que loucura não assume seu sentido, vira catacrese, neologismo... Loucura é de mil e uma utilidades.
Louco pode ser corajoso, bondoso demais, estúpido. Pode ser adjetivo ou um nome carinhoso.

Loucura... Soa como se fosse muito fácil de entender. Não é. Nunca foi. Eu não consigo alcançar seu significado.


Vivos vácuos


É um ciclo vicioso
Um quase nada
Um sólido vazio
Onde era pra haver recheio

Uma boca fechada
Que jura em silêncio
Mil palavras vãs
E complexos e falhas
Que arregalam os olhos
Profundos e frios

Um giro mortal
Um tiro fatal
Que não atinge uma célula sequer
Mas perfura o peito
E acha nas veias
Um refúgio morno

Vem correndo invisível
Levado pelo vento
Que carrega as folhas secas

As flores murchas do meu jardim
Saúdam sua liberdade

Esse Nada flutua sorri
Afeta a expressão não-demonstrada
Mas corre corre
Nessa história mal contada.

(Luisa Iva Maia Forte)


Parei de pensar. Dizem que pensar demais enlouquece.

Ponto final.
Beijos para todos os loucos que perdem seu tempo por aqui.



terça-feira, 4 de novembro de 2008

Gavetas mágicas

Nem eu estou acreditando no que eu acabei de encontrar no fundo da minha gaveta! Um texto velho do qual eu nem me lembrava mais. Deve ter uns dois, três anos e eu não sei como ele sobreviveu à sucessivas arrumações de quarto sem ser percebido (nota-se a minha paixão por organização).

Minha prosa não é das melhores, mas quando eu li o texto até que achei bonitinho. Então, como quem não tem cão caça com gato e hoje eu não tenho poesia nenhuma, vai o textinho mesmo.




Lua nossa, olhares mudos.


A gente ficava olhando a lua à toa, sem motivo... Apenas olhávamos. Acho que os olhos não miravam o satélite que abria um clarão no céu; eles estavam voltados para outro lugar.

Deitados na grama verde, nada mais nos importava. Estávamos ali e isso já bastava para nós. O ar que cortava nosso rosto, os insetos que rondavam a nossa volta, o barulho do rio lá embaixo... Era tudo um presente da noite que, com seu silêncio melodioso, se arrastava lentamente.

Talvez não nos conhecêssemos como imaginávamos. Talvez a perpetuação do silêncio só servisse para demonstrar o abismo que havia entre nós. Mas, naquela hora, os nossos corações acelerados compassaram o mesmo ritmo. Éramos uma coisa só, mesmo que uma coisa vã e sem sentido ou futuro. Estávamos em sintonia, na nossa sintonia.

Poderia a magnitude do universo conspirar contra nós, tão pequenos diante de tão vasta beleza? Poderia aquela imensidão romper a tênue e ingênua ligação que havia entre esses insignificantes amantes? Éramos tão pequenos... Só queríamos ficar ali. Um protegeria o outro e nossas fraquezas se anulariam.

Mas o sol foi saindo e nossos olhares se encontraram. Não poderíamos fixar os olhos no sol. Seu brilho ofuscaria nossas frágeis e desacostumadas vistas. O universo não estava nos ajudando.

Novamente nos olhamos e não dissemos nada. Juramos amor no mais profundo silêncio. Aproximamos as mãos, enlaçamo-nas e cerramos os olhos. Ficaríamos juntos mesmo no breu, na escuridão do nosso íntimo, da nossa alma.

Luisa Iva.


Beijo pra todo mundo. Pros antigos que receberam beijo no último post.
E mais pra Mabi, Gabi, Ju, Rayssa, Thiago Idoso e Nay.

Ponto final.
Boa terça!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Faxinando

Contrariando muitas expectativas, inclusive as minhas, esse blog não terá somente uma postagem. Isso me deixa extremamente feliz e orgulhosa de mim mesma hehe! Eu, em uma das poucas vezes na minha vida, consegui vencer a preguiça com tanta determinação!

E, como terça-feira também é dia de faxina, o texto tem tudo a ver com esse clima de arrumação.




Reformas

Tire o pó dos móveis,
Da sua mesmice
Que ontem te agarrava pelos braços.
Tire o pó dos móveis.

Livre-se das roupas velhas,
Dos gestos velhos,
Das velhas máscaras.
Livre-se das roupas velhas.

Rasgue o dicionário,
A regra, a fôrma,
A fórmula, o já determinado.
Rasgue o dicionário.

Suma com os relógios,
Com as convenções,
Determinações, despertadores berrantes.
Suma com os relógios.

Guarde o salto alto
E agora ande com os pés na terra,
Liberdade de quem nasceu do pó.
Guarde o salto alto.

Ouça músicas velhas,
Mas faça novos passos,
Novos cantos, novas caras.
Ouça músicas velhas.

Afaste o sofá
E faça uma pista de dança,
Vibrante, requebrante,
Pulsante, desbundante.
Afaste o sofá.

Hoje é dia de tirar o pó dos móveis.


Luisa Iva, em 28/10/2008.



Aproveitando para deixar um beijo para os incentivadores!
Um beijo para a Bia, que sempre tem a paciência de ler e reler meus textos.
Um beijo para a Aline, que foi a primeira a comentar aqui.
Um beijo para o implicante do Thiago, que disse que o blog não ia passar do primeiro post.
Um beijo para Belinha, que me ajudou a escolher o nome do blog.
E um beijo internacional para Fillipe, que vem me cobrando um texto novo há um tempo já (promessa cumprida, viu?).

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Tem cinco minutinhos?

Sempre gostei de conhecer pessoas, mas apresentações não são o meu forte. Uma pena. O problema é que sempre me perco quando tenho que apresentar alguém - um desastre que só não é maior do que a clássica tragédia de ser apresentada.

Sendo assim, me privo das apresentações. Vamos fingir que somos velhos conhecidos. Aliás, nada há de tão difícil nisso. Hoje em dia, as pessoas com dez minutos de convivência parecem amigas de infância. Então, não custa nada me ajudar, não é?

E se, por acaso, você ainda tiver uma fração dos cinco minutinhos que eu pedi, poderia ficar mais um pouco...

Entre, a casa é sua.

Como boa anfitriã que sou, não quero chocar meu convidado recém-conhecido, até porque uma boa primeira impressão é essencial. Não servirei nada forte demais, nem aguado demais. Muito temperado também não. Um bom prato à moda da casa, bife e batata frita pra ter mais chance de agradar.

Que tal? Ainda vai me disponibilizar um tempinho?




Avenida

Olhou pra ela,
Olhou pra si,
Olhou pra rua,
Os carros não paravam de passar.

O assunto se fora,
Silêncio sacramentado,
Coração batendo forte.
Olhou pra rua.

Olhou pra ela.
Por que não recomeçara o assunto?
Eram amigos, afinal.
As mãos coladas no tronco.

Olhou pra si.
Talvez o sentimento não fosse aquele,
Talvez devesse agir.
Olhou pra rua.

Respirações descompassadas.
Os segundos mais longos de sua vida; certeza.
Olhou pra ela.
Não esboçava um sorriso sequer,
Tremeu por dentro.

Olhou pra si.
Não sabia se conseguiria descolar os pés do chão.
Criara raízes?
Olhou pra rua.

Cessaram os carros.
Abriu-se um corredor de asfalto.
Os passos se apressaram.
Os olhos na rua.

Sem querer as mãos se tocaram
Na pressa de atravessar.
Olhou pra ela.
Sorriram.
( 27/12/2007)



Acho que seu tempo acabou. Ninguém nunca tem mais de cinco minutos. Mesmo assim, se você quiser voltar, as portas estão abertas. Pode entrar quando quiser, sinta-se à vontade. A casa é humilde, mas o coração é grande!

Então, até uma próxima vez e que ela seja em breve!