terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Meus nós

Antes só...

Estava tudo claro e de repente escureceu. A presença de algo fluido fazia-se perceber.
- Muito prazer, eu sou a Liberdade.

A voz ecoou, virou a esquina e se perdeu. Eu não respondi, tinha medo.

- Você não me diz nada?

- Não quero dizer. Eu sabia que você viria e sei que quer me seduzir.

A impressão de um leve sorriso por parte daquele ser me causou arrepios.

- Eu sou o que todos querem. Há pessoas que imploram por mim, que me gritam. Eu vim te visitar, você deveria sentir honra. Você me quer? Não sabe quantas coisas posso lhe oferecer...

- Não quero. Não pedi que viesse. Vá embora. Vivo bem sem ti. Não vou perder meu direito de escolha.

- E vai abrir mão de mim? Se me quiser, poderá usufruir de todos os pecados, os mais deliciosos. Tanto luxo, diversão, nada para se preocupar... Te darei asas! – E riu um riso profundo, cínico.

- Não te quero. Você não sabe quantos eu já vi se perderem por sua culpa. Você não sabe quantos eu vi cair. Quantos corações apunhalados, quantas lágrimas sofridas... Você dá asas a uns e corta as dos outros.

- Sei bem. Eu sei de tudo, criança. Sei de você e do mundo, sei de cada um e de todos. Eu só não sei como você ainda não caiu. Porque ainda me nega? Por que não sucumbiu?

- Eu sei bem o que é sofrer. E sofro. Prefiro carregar a minha cruz a me deixar levar. Não gosto dos atalhos sombrios e repugnantes que me oferece, vou plantar minhas sementes na minha estrada longa.

- Sua estrada só tem pedregulhos.

- Eu sei procurar o solo bom, tenho paciência de sobra. Eu escolho para onde vou.

- Mas isso é liberdade. Isso sou eu!

- É aí que está! Você é a liberdade dos fracos, dos que se deixam levar por ofertas imbecis. A minha liberdade sou eu que faço e ela consiste em me prender ao que quero. Eu escolho as minhas grades, eu aperto os meus nós. Mas também afrouxo, desfaço, enfeito com laço de fita. Você não permite o apego a nada. A liberdade que me oferece é vã. Eu quero voar sim, mas com a possibilidade de fazer um pouso tranqüilo.

- Comigo os vôos são mais altos, meu bem...

- Mas a queda é mais dolorosa. Inútil! Eu quero poder criar raízes quando bem entender, quero poder ficar quando todos tiverem que ir, eu sou diferente de todos esse cínicos que arrebitam os narizes e largam tudo o que tem e que buscam em troca de uma liberdade mascarada. Essa liberdade é o quê? É banalidade, futilidade, superfície rasa. Eu gosto de ir fundo! Eu quero bem mais que não dever satisfações a ninguém. Isso não é motivo de orgulho, é sinal de falta de zelo, de bem-querer. Eu quero bem mais que essas aparências! Eu vejo além!

- E o que você vê?

- Eu me vejo feliz. E pra ser feliz a gente precisa abdicar de certas coisas. Lá na frente vai valer a pena ter puxado as rédeas, lá na frente eu vou sorrir. Não entrego a minha felicidade nas mãos de ninguém. Já o fiz e não deu certo; não vai ser nas suas mãos que vou me perder. Agora eu sei que posso lutar e que o meu futuro pertence a mim!
O mundo dá voltas, liberdade, e eu vou deixá-lo girar. Não preciso de excessos, por isso não te quero. Você se oferece a mim em demasia e eu quero um pacote econômico. Sei viver com um pouco mais de pé no chão que os outros, e aprendi isso sofrendo.

- Como você se chama, criança?

- Eu me chamo Equilíbrio.

A liberdade foi embora caçar novas vítimas, novos pedintes que posteriormente virão a se arrepender. Por eles nada faço, a vida ensina.
As luzes voltaram a se acender. Não me mexi, estou deixando o mundo girar.


Luisa Iva
em 08/01/2010


Que calor! Que beleza! Felicidade de quem agora está na praia!
Antes de encerrar, tenho que agradecer ao pessoal que vem aqui ler meus textos. Muito obrigada, gente!

E agora,
Ponto Final.

7 comentários:

Unknown disse...

Liberté!
Adorei esse pedacinho ''Eu quero voar sim, mas com a possibilidade de fazer um pouso tranqüilo.''
Não tenho mais palavras pra você, amiga! (:
te amoo :**

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Jah disse para publicar um livro ;)
A sua criatividade continua em crescimento cada dia mais...
Mais uma de suas obras de arte
Parabéns!

Beijo

Verônica disse...

Mais uma de suas obras de arte 2
ameeei lú, muito lindo =)
beijo, beijo!

Bia disse...

"Eu quero poder criar raízes quando bem entender, quero poder ficar quando todos tiverem que ir" - essa liberdade eu também quero! sem isso, acho que liberdade fica muito perto de solidão, né?

Adorei o texto, Lú! Cada vez mais inspirada e inspiradora. Parabéns!

Beijos!

Guilherme Britto disse...

Às vezes acho que seus textos foram escritos pra mim! hehe
Simplesmnte sensacional!

Beijos
ass. Equilíbrio =)

Andrea Vaz disse...

Adorei seu blog e este post me tocou de forma esepcial.

Gostaria de pedir se posso colocar este texto no meu blog. Deixo bem claro que vou manter sua autoria. O texto é seu mesmo?!

Tenha um lindo dia!